quinta-feira, 12 de março de 2015

Você é o seu pai, e não o seu treinador!

Crianças brincam de esportes por diversão. Esquecer esta máxima e gerar alta pressão em seus filhos é a melhor maneira de levá-los a desistir

"Eu me sinto triste quando meu pai me repreende após o jogo. Ele me diz que eu não tenho jogado com intensidade, então eu nunca vou ser um jogador de primeira divisão, que passa fracasso, porque me falta concentração. E minha mãe apoia-o. Diz que jogo como não me importasse em ganhar. Também me jogam na cara que gastam dinheiro comigo e perdem muitas horas levando e buscando no futebol. Eu gosto de jogar futebol, eu gosto de aprender coisas novas, dar um passe, estar com os amigos, vencer, mas eu não me importo muito em perder, porque é isso que o  meu treinador sempre diz. Mas ultimamente não tenho gostado muito, eu venho jogar nos finais de semana nervoso, pensando que, se meu pai não estiver gostando, ele gritará da arquibancada, me dirá que me movimente mais, isso me abala. Ás vezes, eu fico tão nervoso que eu não sei nem onde está a bola. Penso se vale a pena continuar jogando. Mas se eu decidir não jogar mais, também, vou decepcioná-los”.

Muitos pais que acompanham os filhos para os jogos, competições e treinamentos. Eles se sentam nas arquibancadas, assistindo, orientam e se envolvem no esporte de seus filhos como se fossem os treinadores. Existem diferentes espécimes de pais e mães.

Aqueles que assumem papéis positivos. São aqueles em que o interesse do pai é que o seu filho gosta do que faz.

O pai taxista. Acompanha seu filho, o deixa no treinamento, o busca. Normalmente, um pai que gosta muito pouco de esportes, mas se preocupa que seu filho esteja feliz.

O pai positivo. Anima, reforça, se preocupa como tem ido nas partidas. Transmite entusiasmo sem pressão. Felicita o menino por causa do jogo e do treinamento.

O pai envolvido. Ele gosta de participar de decisões e propostas do clube. Ele está interessado na formação das crianças. Esses pais são ativos na divulgação de valores no clube e participa de qualquer ação que pode melhorá-lo.

Há outros papéis, negativo. São aqueles em que o comportamento do pai afeta negativamente a sua criança, gerando pressão, exigindo resultados e pondo expectativas acima do que o treinador ou o clube espera.

O pai pesado. Ele passa o dia todo falando sobre como seu filho  joga bem, nada ou corre e aponta caminhos. Não pressiona diretamente a criança, mas, inadvertidamente, passa que o seu valor como criança está no jogo.

O pai treinador. Grita orientações da arquibancada, corrige seu filho, mesmo contrariando as instruções do treinador, criando confusão na cabeça da criança, que por um lado tem a ideia de jogo passada pelo treinador e, por outro, a versão do seu pai. Em esportes como natação, este pai está na arquibancada andando de um lado da piscina ao outro, com cronômetro em mãos, marcando os tempos e anotando-os. É inaceitável pressionar crianças com informações diferentes a do técnico. Daí surge a dúvida, a quem seu filho deveria obedecer?

O pai que acredita ser um “Cholo Simeone”. Trata de motivar, transmitir garra, pede ao filho para se entregar, que se esforce, que deixe a sua pele em campo, trabalhando, competindo como se sua vida dependesse disso. Mas se esquece de algo muito importante: nem o seu filho é um jogador de primeira divisão que tem que ganhar a vida jogando nem ele é o treinador do Atlético de Madrid. Só consegue que o seu filho perca de vista os valores que são transmitidos no clube onde a coletividade normalmente prevalece sobre individualidade, desfrutar e aprender acima dos resultados, e o fair-play acima de competir a qualquer preço.

O pai que resta em todos os sentidos. Gritar das arquibancadas desacredita o treinador. Diz a seu filho não entender porque ele não joga quando seus companheiros são piores do que ele, se comporta de forma grosseira com o adversário, xinga o árbitro e outras coisas mais. Este é o pai que qualquer criança se sente envergonhada.

As razões pelas quais os pais perdem os papéis são diferentes. Muitos esperam que seus filhos lhes tirem da pobreza se convertendo em “Rafael Nadal” ou “Cristiano Ronaldo”. Outros desejam que o seu filho a ganhe tudo, porque as suas vitórias são seus próprios sucessos, é a maneira de se sentir orgulhoso do filho e mostrar a ele na frente de seus amigos e no trabalho. Outros projetam a vida que eles não puderam ter. Outros não têm nenhum autocontrole. E por último, são aqueles que cruzam as fronteiras da senilidade, simplesmente porque são inconsequentes. Eles sabem que estão errados, mas sua má-educação ou falta de valores faz com que se comportem como pessoas não civilizadas.

O valor está em praticar esportes, porque é saudável, mas, sobretudo, está em poder se divertir e relacionar-se socialmente com os amigos. Nada mais importa. Se você não o pressiona que supere marcas quando está jogando videogame, por que então quando ele vai para as partidas? No momento em que a palavra jogar perde valor - "jogar basquete", "jogar futebol", "jogar tênis" - seu filho deixará de gostar e não continuará jogando.

Se você é um pai, lembre-se, por favor, que é um modelo de conduta para seu filho e para seus companheiros de equipe. As crianças gostam de sentir orgulho de seus pais e, no entanto, ficam mal quando passam vergonha. Ser modelo de conduta traz muitas responsabilidades, porque seus filhos copiam o que eles veem em você. E o seu comportamento deve ser exemplar para que facilite a aprendizagem de um conjunto de valores que acompanham o esporte.

Se como pai ou mãe deseja somar, considere o seguinte dez mandamentos:

1. Lembre-se por que seu filho faz desporto. A principal delas é porque ele gosta. Há outros, como a prática de um comportamento saudável, estar com os amigos ou socializar. O objetivo não é ganhar.

2. Compartilhe os mesmos valores que o clube. Encontre um centro desportivo semelhante a sua filosofia de vida.

3. Não dê ordens. Apenas apoiá-lo, ganhando ou perdendo, jogando bem ou cometendo erros.

4. Não o obrigue a treinar mais, ou fazer exercícios além dos seus treinamentos. Seu filho não é uma estrela, ele é uma criança. Ainda que tenha talento, ele pode não querer o esporte como profissão e praticá-lo apenas por diversão.

5. Não pressione, nem dê orientação, nem grite, nem repreenda, nem amaldiçoe; nem faça gestos que mostram ao seu filho que você está decepcionado com o seu jogo.

6. Respeite todos os jogadores envolvidos na comunidade esportiva: treinador, árbitros, outros técnicos, jardineiros...

7. Controle suas emoções. Não se pode verbalizar tudo o que passa em sua cabeça. As pessoas educadas não mostram incontinência verbal.

8. Nunca fale mal de seus companheiros. As outras crianças fazem parte da equipe. O objetivo do grupo está sempre acima do individual. E falando mal de seus colegas está falando mal de pessoas que compartilham valores, emoções e um projeto incomum.

9. Modifique a sua maneira de motivar. Não se trata de corrigir a criança, mas para fortalecê-la.

10. Não incuta falsas expectativas a seu filho, como dizer que é um campeão, que ele é o melhor e que se esforçando pode chegar onde quiser.

A felicidade das crianças está acima de tudo. Sempre se sinta satisfeito com o que ele faz, ganhando, perdendo ou cometendo erros. Felicite-o por participar mais do que competir. E lembre-se de que seu filho pratica esporte para sua diversão e não para a sua satisfação.

Tradução de El País

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