segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Iago Maidana apresenta maturidade proporcional à altura: 1,95m

Entrevistão: a mudança do ataque para a defesa, aos 13 anos, é apenas uma das decisões que 

Deixe a idade de lado, considere a estatura. O 1,95m é mais adequado para medir a maturidade de Iago Maidana. A juventude dos 18 anos justificaria vislumbres, empolgação e até uma espécie de rebeldia. Porém, o garoto nascido em Cruz Alta (RS) passa longe disso, leva apenas a ansiedade tão comum pela idade e compreensível diante do que experimenta: disputar o primeiro Campeonato Catarinense e como um dos mais jovens integrantes do grupo profissional do Criciúma desde o início de pré-temporada.

Iago Justen Maidana Martins apresenta a maturidade desde os primeiros dias da preparação do Tigre para o ano. Ele pode passar um treinamento inteiro sem mostrar os dentes com uma risada ou sorriso, nas entrevistas esbanja confiança e discurso de quem rodou com a bola. Porém, a característica é talhada desde bem antes, ante as escolhas que fez, ou que foi obrigado a fazer. Com 13 para 14 anos, pediu ao técnico do Cerâmica, de Gravataí (RS), time em que era centroavante na base, para trocar de posição. Acreditava que poderia ser zagueiro. 

Assim foi até o pai, aposentado da rede ferroviária gaúcha, dar o ultimato. Ou aceitava disputar a Copa Cidade Verde, competição de base realizada no interior gaúcho, pelo modesto Gramadense, em 2012, ou acabaria aos 15 anos as tentativas de se tornar atleta de futebol. Secou as lágrimas pela dura, por causa da vontade de fazer da bola instrumento de trabalho. Daquele torneio seria visto e adquirido pelo Criciúma. Foi para longe de casa, mora sozinho desde então. A altura não mudou muito desde então, mas ele cresceu em maturidade.

- Eu tenho personalidade forte. Quando falo que vou fazer algo, eu vou fazer. É meu jeito, o jeito que me ensinaram, da educação que meus pais me deram – pontua o mais alto e jovem do elenco do Tigre.

Iago Maidana sabe que ainda precisa crescer mais, não em estatura, para aparecer no mundo da bola. Quer chances com a camisa do Criciúma para tal. Além da vitalidade e da pouca idade, o gigante tricolor também tem a tal maturidade para seduzir o técnico Luizinho Vieira. Demonstrou um pouco dela na conversa ao GloboEsporte.com, permeada pelo “bah” tipicamente gaúcho entre as palavras. Mostrou também a ansiedade para o início dos jogos da primeira temporada completa que tem pela frente como jogador de futebol profissional, na posição que escolheu por conta própria quando menino. 

GloboEsporte.com: Você disputou Catarinense de júniores e agora vai para o primeiro profissional. Como está a sua expectativa?

Iago Maidana: Eu levo como oportunidade. É meu primeiro campeonato que começo disputando como profissional. Eu estou muito ansioso. Ligo para a minha família e todo mundo fala que é a minha chance, que minha hora que chegou. É a oportunidade que sempre quis, que lutei desde a base, suando. Teve um tempo em que eu fiquei um pouco desanimado por não ter subido ao profissional antes.

Foi quando o Gilmar Dal Pozzo o chamava para os jogos, para ficar no banco, no ano passado?

Foi. Naquela época eu subia e descia. Ficava pensando: “quando vai chegar minha hora?”. Minha família pedia calma, dizia que chegaria, que tinha que trabalhar. Eu trabalhei, nunca matei nada em treino. Sempre trabalhei sério. 

Você tem pela frente um Catarinense com visibilidade, em virtude do estado ser o segundo na quantidade de times na primeira divisão nacional.

E ainda mais no Criciúma, um clube grande, que estava na Série A até o ano passado. Então, tudo isso está a nosso favor. Tem bastante gente olhando e, para nós que estamos subindo, é muito importante. Penso também o Inter de Lages está com um baita time, com caras conhecidos que vão jogar. Eu estou ansioso demais para que comece. Não vejo a hora do dia do primeiro jogo, bah. Tem toda a expectativa de que a torcida do Criciúma sempre apoie, mas depois da situação do ano passado, muita gente critica pela forma que foi construído o time este ano, que é muito jovem. Acho que isso é uma oportunidade para gente e vamos querer mostrar o máximo.

Desde criança jogava como zagueiro, Iago?

Eu era centroavante. Comecei a jogar com sete anos, em Cruz Alta, no interior do Rio Grande do Sul. Nada muito sério, era escolinha de futebol e escola. Não era pensando em ser jogador de futebol. Sempre tentava levar o estudo junto, como o plano B. Com 11 anos fui para Porto Alegre, para fazer teste no Grêmio. Meu pai e eu viajamos de moto até a capital, acho que deu uns 350km. Fiz o teste e passei, a gente teria que morar em Porto Alegre. E eu ainda era centroavante, queria fazer gol.

Já tinha esta estatura?

Eu sempre era o maior do time. A gente foi para Porto alegre, mudamos do interior para capital para nós foi algo assim... bah. Tinha um primo em Porto Alegre e fiquei uma semana na casa dele até meu pai conseguir algum lugar para morarmos. Conseguimos e consegui ficar no Grêmio por dois anos, como centroavante. Compramos casa em Porto Alegre, e logo em seguida me dispensaram, foi logo em seguida. Meu pai chegou a pensar em voltar para Cruz Alta, mas ficamos e ele disse que eu voltaria a estudar, à rotina de antes. Mas eu pedi: “Quero ficar aqui, continuar, vi que é meu sonho, é isso que quero. Vou ficar”. Minha família concordou e acho que admirou por eu ter dito isso sendo tão novo, pedir para ficar.

O que ocorreu depois?

Logo fui ao Cerâmica (time de Gravataí, cidade da Grande Porto Alegre) e joguei muitos campeonatos ainda como centroavante. Foi lá que pensei em virar zagueiro. Meu pai até falava que se eu tivesse virado zagueiro na época do Grêmio não teria saído de lá, que estaria lá até hoje. Foi o que aconteceu, fiquei de zagueiro no Cerâmica. 

Como aconteceu isso?

Eu pedi para ser zagueiro e o técnico aceitou. Eu tinha 13 ou 14 anos e comecei a fazer campeonatos bons como zagueiro, a pegar mais experiência. Depois de cinco meses na posição fui para o Inter fazer um teste. Fiquei uma semana e não passei. Acho que foi porque não tinha experiência na zaga. Foi quando abriu um projeto de um empresário, amigo meu, chamado Renato Schmmit, para formar atletas (em Porto Alegre). Foram dois anos, jogando competições de base. Aí fui chamado pelo Gramadense, para jogar em Três Coroas, na Copa Cidade Verde, depois voltava ao projeto. Mas eu não queria ir.

Por que?

Estava na praia, de férias. Falei pro meu pai: “Gramadense, pai? Gramandense não, né?”. Eu queria algo melhor. Aí ele disse que se eu não fosse iria voltar para Porto Alegre para estudar, fazer um curso. “Eu larguei”, ele me disse. Aquilo me fez chorar. Minha mãe foi me consolar e disse para que aproveitasse a oportunidade, ver no que podia dar. Foi a melhor coisa que me aconteceu. O Criciúma me viu e ocorreu tudo isso.

Pedir para ser zagueiro e a persistência de seguir em Porto Alegre, longe dos pais, demonstra um pouco dessa sua maturidade.

Eu me analiso muito, nunca vou estar pronto. Eu tenho personalidade forte. Quando falo que vou fazer algo, eu vou fazer. É meu jeito, o jeito que me ensinaram, da educação que meus pais me deram. 

E você aceitou vir para o Criciúma.

Quando vim, meu pai só me largou na rodoviária de Porto Alegre e disse: “Vai”. Sempre foi assim, ele confiava em mim. Me deixou lá e vim. Cheguei, liguei para o Evandro (Guimarães, diretor da base na época) para me buscar na rodoviária. Fiquei uma semana e liguei para dizer que estava gostando e iria ficar.

No final das contas, a prensa do teu pai foi uma forma de incentivar, te colocou na pressão, para que se virasse. 

Eu sempre agradeço a ele. Sei que a luta é minha, mas agradeço por ter me incentivado a vir para cá. Há três anos que estou aqui, e eu agradeço a ele. Não fosse ele a falar para eu ir pro Gramadense naquela vez nunca estaria aqui.

Você tem 18 anos e 1,95m. Sua maturidade é proporcional ao tamanho, e não à idade?

Tem que ser, nesta fase é obrigado ter maturidade. Até pela função em campo. Sou um cara na minha, muito sério, trabalho sério. É da minha personalidade trabalhar sem risadinha. É o perfil que acho que procuram, um zagueiro que não brinca muito.

Isso tem jeito de jogador de time. E a braçadeira?

Já tive ela no juvenil, aqui, com o Geraldo (Spricigo). Fiquei um ano como capitão até pela minha personalidade. Falei com a Fran (Francinéli Becker), a nossa psicóloga, e me disse que a maioria dos jogadores do grupo atual tem essa personalidade para ser capitão. Eu sou um deles, mesmo tão novo assim. No júnior eu joguei quando era ainda juvenil, seria difícil pegar a faixa sendo um dos mais novos do grupo. Mas quando precisou que fosse o capitão, tentei representar bem. 

Acho difícil, mas, numa situação hipotética: se o Luizinho te dá a braçadeira para a primeira partida no Campeonato Catarinense deste ano?

Eu ia aproveitar muito, bah, imagina? Começar um campeonato e com a braçadeira seria emocionante. Eu me sinto muito confiante com uma faixa. Pode ser coisa da minha cabeça, porém me sinto muito bem com a braçadeira. Não pesa, é totalmente ao contrário.

Globo Esporte

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